24/03/16

Já não te encontro.


Escrevo-te a ti, que já não te encontras entre nós.
E eu já não te encontro.
Já não te encontro sentado, a apanhar sol, nos bancos de pedra do teu café.
Já não te encontro, sentado no sofá, a ver televisão, com o volume ridiculamente alto, pois tinhas problemas de audição. Já não reclamo mais por o volume estar tão alto. Não mais.
Já não te encontro, a mandar vir com as pessoas que iam ao teu café. Mandavas vir tanto, eras uma pessoa tão zangada com o mundo, mas o teu coração era tão bom.
Já não te encontro sentado à mesa, sempre a oferecer-me comida e a praticamente obrigar-me a comer.
Já não te encontro, contente por me ver, cada vez que ia a tua casa ver-te quando chegava da universidade. E também já não te encontro quando me ia despedir de ti, ao domingo, pronta para mais uma semana.
Já não te encontro, no teu café, na tua casa, no teu sofá, nos bancos de pedra, na rua, em lado nenhum. Já não te encontro.
Apenas te encontro na energia que deixaste neste mundo, e nas memórias que restam. Sei que me adoras... eu também te adoro, e isso mata-me.
Sei que partiste, vi-te ser enterrado, vi-te sem reacção quando a família e os amigos choravam, e apesar disso tudo ainda não consigo acreditar que é esta a realidade com que terei de viver daqui para a frente.
Ainda não consigo acreditar que irei "à casa do meu avô" e nunca mais te verei lá, à volta das tuas coisas. Ainda não consigo acreditar que já não te encontras entre nós.
Nunca conheci um mundo sem ti. Agora sou obrigada a viver nele. Como se fosse minimamente justo viver assim. Como se fosse minimamente justo ser forçada a aceitar essa ilusão de que te foste, para sempre.
Não posso conviver com essa ideia de que te foste para sempre. As pessoas vão-se para sempre? Acho que não... Acho que as pessoas nunca partem de verdade, mas que vivem nos que as amam. Então, acredita, que sempre viverás em mim, e que jamais te esquecerei.
Jamais deixarei a tua memória desvanecer, ou desgastar-se com o tempo. Duas coisas que sempre viverão em mim: tu e a saudade de ti.
Ah... Nunca te disse, mas nunca gostei muito de dar beijinhos para cumprimentar as pessoas...
Tu gostavas tanto, e fazias tanta questão, que sempre te dei o teu beijinho de olá e de adeus.
Nunca me passou pela cabeça que realmente te tivesse que dar o beijinho de Adeus, o último. E nunca ninguém disse que seria tão difícil e que me ia destroçar desta maneira. Mas rasgou. De uma forma da qual não é possível recuperar. Espero conseguir aprender a viver com isso. De facto, até já vivo, mas dói como o inferno.
Aprendi que não somos nada. Não somos nada sem aqueles que amamos. E que de dane, se isto é clichê. A vida é clichê.
Se algum dia voltares, lembra-te de mim.
Quero muito dar-te mais um beijinho, e matar as saudades.
Eterna saudade é pouco, muito pouco, comparado ao que sinto.
Um beijo, da Ana.